sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Era uma vez os três ... empatas



A Liga Portuguesa de Futebol começou no último fim-de-semana, sem jogos em canal aberto – assunto de que falarei mais tarde. Com o mercado ainda por fechar, são muitas as dúvidas sobre saídas e entradas e alguns jogadores que passeiam o corpo nos relvados portugueses têm a cabeça a viajar em terras de Sua Majestade, de Dom (já posto) Berlusconi ou até aqui ao lado em terrenos Del Rei.



SL BENFICA vs SC BRAGA (2-2)

A Liga começou com um jogo emocionante entre o Benfica, um crónico candidato ao título, e o Braga, cada vez mais um dos grandes de Portugal.
O Benfica, que me parece mais forte este ano, continua a sofrer por conta das teimosias de Jorge Jesus. Uma vez mais, a época começa na Luz com demasiadas opções para atacar e com poucas para defender. Já em épocas anteriores, os encarnados começaram a liga aos tropeções por problemas semelhantes – recorde-se Roberto. Este ano, a questão que prepondera é perceber a aposta do clube em dois extremos (Sálvio e Ola John) em detrimento de um defesa esquerdo, como poderia ter sido o argentino Rojo que acabou por ir para o Sporting por apenas 4 milhões.

O sorteio determinou que o Braga defrontaria o Benfica numa partida que os minhotos sabiam complicada para início de época. Pouco tempo depois de ver sair o seu treinador para a Grécia, a equipa mostra-se bem orientada por um muitas vezes desvalorizado José Peseiro e bem reforçada com uma mistura de jogadores experientes e promessas de futuro. Ainda assim, também em Braga se vive a enorme ansiedade dos últimos dias de mercado desejando-se ardentemente que um dos melhores avançados do campeonato português (Lima, pois claro) não saia. O Braga parece-me sem dúvida uma equipa mais forte e madura do que anteriormente e, se o mercado fechar sem grandes movimentações, será este ano, mais do que nunca, um sério candidato aos lugares de topo da tabela.

O jogo na Luz foi interessante e bem disputado, havendo, porém e como é normal, jogadores ainda à procura da melhor forma, pormenores a corrigir em ambas as equipas e lugares a preencher nos plantéis.

Depois de ter estado em vantagem com o golo de Sálvio, o Braga acabou por empatar com um auto-golo do miúdo Melgarejo, a jogar numa posição que não é a sua. Aproveitando um adversário enervado, o Braga cresceu no jogo e voltou a  agradecer à ineficácia de Melgarejo a celebração do segundo golo da autoria de Mossoró.

A esta supremacia táctica e emocional da equipa minhota, Jesus respondeu, a meu ver mal, com três substituições quase seguidas – Bruno César, Rodrigo (que fez um bom jogo) e Sálvio (o melhor dos encarnados) que deram lugar a Nolito, um muito lento Aimar e Enzo Perez, respectivamente. Esgotadas as substituições fiquei a pensar onde estaria Carlos Martins que fez uma pré-temporada estrondosa e onde estavam os avançados. Apesar das opções pouco convincentes, o Benfica conseguiu, fruto de um pénalti bem assinalado por Artur Soares Dias, chegar ao golo pelo suspeito do costume: Óscar Cardozo. Ao Braga, o pénalti trouxe a expulsão de Douglão com um segundo amarelo erradamente mostrado.

O Braga viu-se obrigado a mexer mais cedo para defender o precioso ponto. Peseiro abdicou de um dos seus médios (Hugo Viana) e colocou em campo Nuno André Coelho. Preparava-se para o presumível “massacre” do Benfica e começava a construir um muro em frente à baliza de Beto (que fez mais uma grande exibição), mas a verdade é que esse "massacre" nunca aconteceu porque faltavam forças, velocidade, o apoio de Rodrigo a Cardozo, a imprevisibilidade e o pé canhão de Carlos Martins que assistia a tudo sentado no banco.

O Braga nunca sentiu o verdadeiro sufoco e prova disso é que só faz a última alteração aos 88 minutos tirando o capitão Alan e colocando em campo o lutador Djalmal. Nos últimos minutos, o Benfica jogou com o coração e o Braga com a cabeça.

Deste jogo, para além de um resultado que me pareceu justo - nenhuma das equipas merecia perder - ficou-me a ideia de um Benfica mais forte ofensivamente do que na época passada mas novamente a ser construído de forma errada (da frente para trás) e de um Braga mais maduro, inteligente e frio do que em épocas anteriores.


GIL VICENTE FC vs FC PORTO (0-0)

Na cidade de Barcelos, onde o campeão em título conheceu derrota pesada na época anterior (3-1), FC Porto e Gil Vicente mediam forças num jogo teoricamente acessível aos campeões. 

O Porto, talvez mais do que qualquer outra equipa do campeonato, apresenta-se neste início de Liga com um enorme ponto de interrogação: jogadores a treinar à parte, transferências eminentes desde a abertura do mercado mas que não se fazem e um estilo de jogo que ainda não convenceu os adeptos que têm memórias bem frescas da época de André Villas-Boas. Vida difícil para o pouco consensual Vítor pereira.

Hulk vai partir para nova aventura ou permanecer no Dragão? Existirá alguém disposto a oferecer pelo brasileiro aquilo que o FC Porto pretende? E se Hulk ficar, conseguirá o FC Porto e principalmente o treinador Vítor Pereira motivar um jogador que já ganhou tudo por cá? Mas, apesar da enorme mais valia desportiva que representa ter Hulk, não será esta a melhor altura para vender aquele que tem sido o melhor jogador do campeonato época após época?

Rolando está definitivamente cortado das opções? Estará motivado para mais um ano em Portugal? Fernando estará de saída para Itália ou convencido e motivado a jogar no Porto pelo menos mais um ano? Será possível manter Moutinho depois de uma época tão boa e de um Europeu quase perfeito?

Todas estas questões são uma realidade na cabeça dos adeptos azuis e brancos e só depois de 31 de Agosto poderão ser respondidas. Até lá, vão continuar obviamente a criar desconfiança em torno da equipa. Por alguma razão, os treinadores desesperam por um mercado a fechar antes da competição ter início oficialmente.

Do lado do Gil Vicente o mercado já mexeu para levar alguns dos “titularíssimos” da época anterior. O Benfica levou o avançado mais temido dos Gilistas (Hugo Vieira) e o Braga veio a Barcelos buscar de volta o lateral Rodrigo Galo (agora emprestado ao Olhanense) que tão importante era nas movimentações ofensivas da equipa.

Ainda assim, a equipa conseguiu segurar alguns dos elementos chave para o seu futebol (César Peixoto, Adriano e Cláudio), tendo-se reforçado com elementos menos conhecidos mas que poderão ser muito úteis ao longo da temporada. 

A partida começou com domínio inquestionável do FC Porto sobre o Gil Vicente, um domínio consentido, territorial e de posse de bola. O Porto, apesar de dominar o jogo, fazia-o de forma lenta, previsível e pouco ou nada perigosa. Tal como em muitos jogos da época anterior, esta começou com 45 minutos de trocas de bola para trás e para o lado, sem mobilidade e sem velocidade nas zonas laterais do terreno. Esta cadência vagarosa esticou-se até à segunda parte em que um James sem inspiração e um Hulk cansado não assistiram Jackson Martinez como se esperava.

Vítor Pereira decide, então, fazer uma alteração incompreensível. Tira o homem que mantém o meio campo da equipa equilibrado (Fernando) e coloca um ponta de lança (Kléber). A partir daqui, a equipa do Porto partiu e o jogo colectivo tornou-se quase impossível e nem mesmo a entrada de Alex Sandro para o lugar de Mangala mudou a dinâmica ofensiva dos azuis e brancos. Porém, o jogo tornou-se mais animado, pois, percebendo bem o que se estava a passar, Paulo Alves respondeu à alteração do FC Porto e deu à equipa velocidade para contra atacar e aproveitar os desequilíbrios a que Vítor Pereira tinha condenado a sua equipa, fazendo entrar Leonardo e Brito. 

No meio de toda esta confusão táctica, as oportunidades iam aparecendo esporadicamente, desenhadas por trabalhos individuais de Hulk ou Jackson e por contra ataques de Leonardo e lances de bola parada de César Peixoto.

No final do jogo, o resultado, obviamente, penaliza mais o FC Porto mas acaba por ser um castigo justo para a forma apática como a equipa de Vítor Pereira encarou esta primeira jornada do campeonato nacional.

No rescaldo da partida sobraram as desculpas do costume com que as equipas grandes se defendem quando não encontram argumentos para vencer os adversários ditos pequenos. Foi nesse sentido que o capitão (Hulk) e o treinador (Vítor Pereira) atacaram o Gil Vicente pelo anti-jogo quando deveriam ter optado por um discurso bem diferente. Cada equipa joga com o que pode e como pode e um treinador de um grande clube não pode estar à espera que uma equipa como o Gil Vicente se bata de igual para igual.

Se um clube grande vai a um estádio como o de Barcelos e não vai preparado para esse estilo de jogo defensivo isso significa que houve uma enorme falha na preparação do jogo e neste caso particular a culpa tem claramente um nome: Vítor Pereira. O Gil Vicente tem um orçamento anual de cerca de três milhões de euros o que diz muito sobre a diferença e a capacidade das duas equipas. Para termos uma noção, o valor pago pelo reforço mais caro dos Dragões (Jackson Martinez, 8.8 milhões de euros) garantia o orçamento de uma equipa como o Gil Vicente durante três anos e o valor que é definido como aceitável para negociar Hulk (supostamente 50 milhões de euros) garantia orçamento ao Gil Vicente por mais de 15 anos. 

Acusar o Gil Vicente de anti-jogo e jogo defensivo parece-me uma forma de sacudir as culpas por parte do treinador campeão nacional, a quem ainda sobrou tempo para criticar o árbitro Duarte Gomes por dois pénaltis não assinalados. O Porto tem, sem dúvida, um plantel de enorme qualidade (o mais forte e equilibrado do campeonato). Falta descobrir se Vítor Pereira tem “unhas” para ele, porque se os adeptos não lhe pedem a famosa “ópera” dos tempos de Villas-Boas, pedem pelo menos uma música bem diferente daquela que a equipa lhes tem dado.

Por sua vez, o Gil Vicente de Paulo Alves tem uma equipa que se mostra competente e organizada mas frágil no ataque. Falta saber se nos jogos em que for obrigada a atacar e vencer vai estar à altura do desafio.  


VITÓRIA SC  vs SPORTING CP (0-0)

Poucos minutos depois do jogo de Barcelos ter terminado, o Vitória SC e o Sporting CP entraram em campo no Estádio D. Afonso Henriques para dar um espectáculo ainda mais triste, morno e sem interesse.

Confesso que este foi o jogo que segui com menos atenção, pois tendo em conta o ritmo a que se jogava - ou a falta dele - e sabendo que à mesma hora era possível ver o Barcelona a fazer das suas em Camp Nou (vitória por 5-1) não resisti a passar parte do tempo a ver o jogo de "nuestros hermanos".

O Sporting, que se apresenta muito reforçado e com a garra de Sá Pinto ao comando, visitou a cidade de Guimarães para fazer alinhar o onze que já se esperava, deixando no banco aquela que promete ser a nova estrela da companhia, o marroquino Labyad e aquele que é, a meu ver, o grande patrão do meio campo leonino, o holandês Schaars. Quando vi o onze do Sporting - que não me surpreendeu - com o Holandês Wolfswinkel sozinho na frente, previ dificuldades para a equipa de Sá Pinto pese embora a fragilidade óbvia da equipa dos minhotos, claramente mais frágil do que em anos anteriores. Com o passar dos minutos, o avançado leonino foi-me dando razão. Parece-me sempre muito abandonado na frente e demasiado frágil para fazer mossa à defesa adversária onde era constantemente "engolido" pelo gigante N'Diaye, um dos poucos sobreviventes da sangria que o plantel Vimaranense sofreu.

É certo que o Sporting dominou a partida, com maior posse de bola, mais ataques, mais remates e mais cantos, mas não é menos verdade que encontrar lances de perigo neste jogo era quase tão difícil como encontrar uma agulha num palheiro. 

Se o Guimarães ia fazendo o seu jogo à espera de ver o que lhe trazia esta liga 2012/2013, o Sporting ia atacando timidamente a baliza de Douglas sem nunca o incomodar verdadeiramente. A fragilidade e moleza do meio campo leonino, a falta de celeridade dos extremos e a falta de "quase tudo" de Wolfswinkel eram facilmente controladas por uma bem organizada equipa Vimaranense comandada pelo experiente Alex e à qual a irreverência de jogadores como André André, o irrequieto Ricardo ou João Ribeiro (não saiu do banco) poderá dar alegrias no futuro. O Guimarães mostra ter talento e capacidade de crescimento, mas nesta fase apresenta-se ainda demasiado verde para fazer mais e melhor.

Na segunda parte, fiquei na esperança de ver Sá Pinto arriscar e fazer subir a sua linha intermédia talvez com a entrada do prodígio Labyad para a posição 10. A verdade é que nada disso aconteceu e a saída do apagado Adrien foi colmatada com a entrada de André Martins, numa alteração que não trouxe grandes mais valias ao jogo dos leões. O Guimarães de Rui Vitória mantinha-se tranquilo, a cumprir na perfeição o plano de jogo definido mesmo que muito raramente incomodasse Rui Patrício e só fez a primeira alteração quando Barrientos começou a pisar o risco do segundo amarelo colocando em campo o jovem Marco Matias cuja formação foi curiosamente feita junto dos leões. 

Com o passar do tempo, Sá Pinto olhava insistentemente para o banco na procura de soluções para dar o abanão que o futebol da equipa precisava, talvez procurando um avançado que ainda ali não mora. Aos 72 minutos, decidiu-se – e bem - pela entrada de Labyad, que só pecou por tardia, para o lugar de Gelson.

O Sporting deixou-me com a ideia de que necessita urgentemente de um ponta de lança que faça pelo menos sombra a Wolfswinkel. O sul-americano Viola já chegou e ontem fez falta no banco de suplentes. Tirando a posição de avançado, o Sporting parece-me ter tudo para ser mais forte do que na época anterior. A dupla de centrais (Boulharouz e Rojo) convenceu-me e é mais forte do que a anterior. O meio campo está recheado de muitas e boas opções e apenas me admira a não titularidade de Labyad que tem tudo para ser o próximo puto maravilha a jogar no futebol português. A equipa de Sá Pinto é uma equipa em formação e, podem esperar os adeptos um futebol, bem mais consistente e atraente do que o de 2011/2012.

Do outro lado, a equipa de Guimarães, vítima de um autêntico desfalque no seu plantel, está-se a reconstruir com base em juventude, o que me parece uma opção inteligente de quem gere o clube, tendo em conta a situação do clube de Guimarães e do país em geral. Existe talento neste plantel e jogadores experientes, capazes de saber integrar toda esta juventude da melhor forma. O Guimarães é uma equipa treinada por um homem competente e conhecedor do futebol português. Não há dúvidas de que vai crescer e lutar pelo seu lugar entre os candidatos à Europa. 


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